Cortes da Opep+ beneficiam países fora do grupo e não devem durar, dizem analistas

Os cortes de produção promovidos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) estão beneficiando países fora do cartel, como EUA, Brasil, Guiana e Canadá, e devem começar a ser relaxados ainda este ano, dizem analistas ouvidos pela agência epbr.

O cartel tem atuado para manter os preços do barril próximos aos US$ 80, mas os esforços estão tendo custos altos para o grupo, o que levou inclusive à perda de um de seus membros. Angola deixou a coalizão em dezembro de 2023 pelo desejo de voltar a ampliar a produção.

“Apesar de ser uma estratégia bem-sucedida, isso impõe um custo alto em termos de market share”, afirma o analista de energia da hEDGEpoint Global Markets, Victor Arduin.

O estrategista de commodities do Citi, Eric Lee, concorda que a tendência é de um aumento nas exportações do cartel e aliados a partir de 2025, o que também tende a reduzir os preços no mercado internacional.

“A Opep+ está enfrentando o desafio do que fazer em um mercado que está caminhando em direção a um maior excedente de oferta, mesmo depois de já ter cortado tanto a produção. O grupo espera trazer de volta parte desse volume ao mercado”, disse Lee.

Os analistas afirmam que os cortes do grupo têm beneficiado, indiretamente, países que não fazem parte do cartel, que conseguiram aumentar exportações e ganhar mercado, com destaque para Estados Unidos, Brasil, Guiana e Canadá. Esses quatro países representam os produtores com maiores aumentos na extração previstos para este ano.


Brasil convidado

O Brasil recebeu um convite para integrar a Opep+ em novembro, às vésperas da 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climática (COP28). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que o país poderia pautar o grupo com “a importância de superar a política de combustíveis fósseis”.

Para Lee, o país tem mais a ganhar se seguir como observador, fora da coalizão. Uma eventual decisão por se juntar aos esforços de cortes de produção pode ter efeitos ruins sobre a atração de investimentos na atividade de produtores privados.

“O Brasil, como um produtor mais diversificado, que tem uma moeda flutuante e depende menos das receitas do petróleo para o orçamento fiscal, tem muitas razões para não querer cortar a produção junto com outros países”, disse.


O analista lembrou que apesar de a Petrobras responder pela maior parte da extração no Brasil, outras empresas também têm atividades no país.

“Uma Arábia Saudita com a Aramco é uma coisa, assim como muitos petroestados e suas empresas estatais, mas em uma economia diversificada, isso [cortar a produção] é algo mais difícil de fazer. Não é impossível, o país pode decidir que quer fazer, mas há algumas implicações muito importantes para o setor privado e vai ser necessário lidar com essas questões”, acrescentou Lee.

Perda de força

Os cortes de produção dos países que compõem a Opep + estão em 2,2 milhões de barris/dia no momento. Esse nível deve ser mantido pelo menos até o final de março. A próxima reunião do Comitê de Monitoramento Ministerial Conjunto do grupo está marcada para 3 de abril e a Arábia Saudita tem indicado que deve segurar mais um trimestre.


O grupo existe há sete anos e faz parte de um esforço para retomar a influência sobre as cotações da commodity. O cartel original perdeu força na influência dos preços ao longo da década passada devido, sobretudo, ao aumento da produção não convencional nos Estados Unidos. Os cortes de produção se intensificaram durante a pandemia, quando a desaceleração do consumo levou a fortes quedas nos preços do barril.

A Opep tem cinco membros fundadores: Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela. Posteriormente, passaram a fazer parte do cartel: Catar, Indonésia, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Nigéria, Equador, Gabão, Guiné Equatorial, Congo e Angola, que deixou o grupo recentemente. Já a Opep+ integra também Rússia, Azerbaijão, Bahrein, Brunei, Cazaquistão, Malásia, México, Omã, Sudão e Sudão do Sul.

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